workshop organizacional sobre o futuro do trabalho com inteligência artificial
menu de perguntas e uma estrutura de "consultoria cética" para quebrar certezas e gerar ações em grupo
fui convidado a estruturar e facilitar uma dinâmica entre a liderança da empresa onde trabalho, contando com a confiança e engajamento dos próprios líderes. tomei isso como uma oportunidade para desenhar uma experiência em grupo de um assunto crítico para os dias atuais.
a ideia foi nos desafiar sobre pressupostos, medos e riscos do que a i.a. poderia vir a substituir ou potencializar em nosso cenário organizacional.
explorar a fronteira entre o trabalho humano e automação com agentes de inteligência artificial.
estou compartilhando abaixo uma versão da atividade que realizei como uma oportunidade para mais pessoas experimentarem, facilitarem e adaptarem em suas empresas.
índice
preparação e propósito
contexto
material necessário
parte 1: o ponto de partida: mapeando seu foco (5 min)
mapear, filtrar e selecionar as atividades críticas ou de risco
parte 2: reflexão individual guiada: o coração da dinâmica (10 min)
menu de perguntas para o cético bem-intencionado
parte 3: a consultoria do cético: rodadas em grupo (55 min) (inspirado no troika consulting)
a estrutura das rodadas em grupos de quatro:
o cliente apresenta (3 min)
os consultores discutem, o cliente apenas ouve (6 min)
o cliente reflete sobre o que ouviu (2 min)
compartilhamento com todos: os insights mais potentes de cada grupo (10 min)
parte 4: da experiência à ação: o que faremos agora? (20 min) (inspirado no w3: what, so what, now what?)
conversa em grupo:
what? (o que percebemos?)
so what? (qual a importância disso?)
now what? (que experimento prático podemos desenhar?)
compartilhamento dos experimentos (10 min)
o que levaremos: uma coleção de experimentos práticos
reflexão posterior: a tensão entre velocidade e confiança
a busca por experimentação e sua sombra: o risco de atropelar a confiança
a proposta de pactos de coexistência como ferramenta de navegação:
o convite final: tratar a construção de confiança com o mesmo rigor dos experimentos
dinâmica: um convite para testar nossas certezas sobre i.a.
contexto:
diante do avanço da inteligência artificial, é natural que nossas primeiras reações sejam defender o território que consideramos unicamente humano. mas e se nossas certezas forem, na verdade, nossos maiores pontos cegos?
seguiremos uma dinâmica de ~90 minutos como um tipo diferente de exercício. em vez de tentarmos chegar a um mapa de respostas, a ideia é outra: vamos usar nossos pares como um espelho para testar nossas próprias certezas sobre automação e i.a. o foco será usar um conjunto de perguntas críticas e a provocação dos colegas para nos ajudar a enxergar nossos pontos cegos e, quem sabe, descobrir o que não sabemos que não sabemos.
sairemos disso não com um consenso, mas com algo mais útil: uma lista de insights e quem sabe pequenos experimentos práticos para testar nossas hipóteses no mundo real.
a proposta foi inspirada em elementos do liberating structures.
material necessário:
uma folha impressa da dinâmica abaixo para cada pessoa: isso ajuda não só a entenderem, mas consultarem, acompanharem e saberem o progresso.
uma caneta para cada pessoa: elas usarão para as primeiras atividades e poderão anotar no verso da própria folha impressa.
o ponto de partida: mapeando seu foco (5 minutos)
o que faremos: para começar, cada um vai refletir em silêncio e seguir três passos rápidos.
mapear: liste as principais atividades e processos de suas áreas.
filtrar: revise sua lista e marque as atividades que parecem insubstituíveis ou cujo risco de automação você considera muito alto para ter mudanças na semana que vem.
selecionar: agora, escolha seu foco para a conversa.
se você marcou alguma atividade como insubstituível, selecione as 2 ou 3 que você acredita serem as fortalezas humanas mais críticas.
se você não marcou nenhuma, então selecione as 2 ou 3 atividades substituíveis cujo risco de automação lhe parece mais complexo ou perigoso.
reflexão individual guiada: o coração da dinâmica (10 minutos)
o que faremos: agora, com seus 2 ou 3 tópicos selecionados, você terá um tempo de reflexão silenciosa para, de fato, usar o "menu de perguntas" abaixo. a instrução é aplicar as perguntas a cada um dos seus tópicos e anotar suas reflexões.
o propósito: esta é a etapa crítica. ela garante que todos cheguem à fase de discussão com uma reflexão mais profunda e estruturada, pronta para ser compartilhada e desafiada.
menu de perguntas para o cético bem-intencionado:
qual é a crença ou o medo que está por trás da sua afirmação de que isso é insubstituível ou arriscado?
o que aconteceria se sua premissa estivesse 100% errada? que nova oportunidade ou risco, que não estamos vendo, surgiria no cenário oposto?
se fôssemos forçados por um fator externo a automatizar apenas 10% da atividade, qual seria a primeira coisa a ser feita? o que esse pequeno passo revelaria sobre a natureza da atividade?
se automatizarmos essa atividade com sucesso, qual seria a consequência inesperada (boa ou ruim) para a cultura, as pessoas e a dinâmica dos times?
a consultoria do cético: rodadas em grupo (55 minutos) - inspirado no troika consulting
aqui usaremos uma estrutura de consultoria em grupos de quatro, garantindo que cada pessoa seja desafiada por múltiplos pontos de vista.
em grupos de quatro (45 min): 4 rodadas de consultoria.
a dinâmica terá 4 rodadas de aproximadamente 11 minutos cada, para que todos no grupo tenham a chance de ser o "cliente".
em cada rodada:
o cliente (1 pessoa) apresenta (3 min): a pessoa da vez apresenta a síntese de sua reflexão individual sobre um dos seus tópicos.
os consultores (3 pessoas) discutem (6 min): os outros três membros do grupo reagem, fazem perguntas e oferecem perspectivas, usando o menu como guia. o cliente apenas ouve, sem interromper ou se defender.
o cliente reflete (2 min): o cliente compartilha com o grupo o insight mais valioso que teve ao ouvir a conversa dos consultores.
compartilhamento com todos (10 min): para garantir que consigamos ouvir de todos os grupos dentro do tempo, cada grupo de quatro elegerá um representante. a instrução para o representante é: "apresente os insights mais potentes ou a pergunta mais desafiadora que emergiu das rodadas de consultoria do seu grupo".
da experiência à ação: o que faremos agora? (20 minutos) – inspirado no w3
o que faremos: após o compartilhamento, nos manteremos nos grupos de quatro para uma conversa de 10 minutos, usando a estrutura "what, so what, now what?". o facilitador pode guiar o tempo da seguinte forma:
what? (o que?) - 2 minutos: o grupo olha reflete sobre os insights compartilhados: "o que percebemos nisso? quais padrões surgiram?".
so what? (e daí?) - 4 minutos: o grupo interpreta o que percebeu: "e daí? qual a importância disso para nós? que conclusões tiramos?".
now what? (e agora?) - 4 minutos: o grupo foca na ação: "e agora, com base nisso, que experimento prático podemos desenhar para testar uma de nossas suposições?".
compartilhamento os experimentos (10 min): para fechar, cada grupo elegerá um representante. teremos uma rodada rápida onde cada representante terá 2 minutos para apresentar a resposta do seu grupo para as perguntas “so what?” e "now what?". o facilitador cuidará do tempo para garantir que todos os grupos possam compartilhar.
o que levaremos desta conversa:
o resultado final será uma coleção de insights e pequenos experimentos práticos, desenhados por nós mesmos, para avaliar e explorar a fronteira entre o trabalho humano e a automação. é uma abordagem que favorece a ação e o aprendizado sobre o debate e a opinião.
será uma hora e meia de questionamento intenso e produtivo.
PS: mensagem que enviei ao grupo inteiro um dia depois via slack
[pós-dinâmica de i.a.] experimentação com i.a.: velocidade vs. confiança
pessoal como seguimento à nossa conversa gerada no workshop de explorar as fronteiras da i.a. e a disposição para questionar nossas certezas, acho importante refletirmos sobre a sombra que essa mesma energia pode projetar. não aqui nessa thread mas em outro momento e meio.
a busca por experimentação, se não for cuidadosamente calibrada, corre o risco de atropelar a confiança que estamos tentando construir com os times.
a mesma força que pode nos impulsionar para frente pode, se não for canalizada, gerar fissuras na nossa coesão interna.
isso acaba nos colocando diante de uma pergunta que talvez tenhamos deixado implícita: o que, de fato, desejamos priorizar agora como grupo? a velocidade dos experimentos ou a profundidade da confiança entre as pessoas dos times?
essa é uma tensão entre o risco de nos tornarmos irrelevantes se não nos movermos rápido e o risco de nos paralisarmos por conflito ou perdermos pessoas importantes se nos movermos de forma descuidada.
mas acredito que a saída não esteja em escolher um lado, mas em nos perguntarmos: quais são os acordos mínimos que precisamos estabelecer para que nossos experimentos não sejam interpretados apenas como uma ameaça?
penso numa ideia de pactos de coexistência como uma ferramenta prática.
poderíamos, por exemplo, acordar uma pausa estratégica em automações muito sensíveis (por exemplo, pausar por 2 meses automações de i.a. nova no processo X ou time Y) ou experimentar com acordo mínimo, para podermos entender os riscos sem a pressão de uma grande implementação. ou poderíamos desenhar esferas de influência delimitadas, onde um time tem autonomia para testar i.a. livremente em seus processos internos, desde que não cruze fronteiras que afetem os times X ou processo Y.
ou, ainda, criar um protocolo mínimo de segurança, um questionário simples que todo experimento precisa responder antes de começar, garantindo que os riscos básicos sejam considerados.
esses pactos não seriam freios à inovação, mas sim instrumentos de navegação. eles nos ajudariam a tornar nossas negociações sobre o futuro tão explícitas quanto nossos experimentos.
não focaríamos apenas em inovar com tecnologia, mas 'inovar' nas formas como pactuamos nossas ações e os inevitáveis sacrifícios.
um convite para tratarmos a construção de confiança com o mesmo rigor e intencionalidade que dedicamos aos projetos mais ambiciosos.